quinta-feira, 2 de outubro de 2008


No poema "Boitempo", Carlos Drummond descreve muito bem como a vida e o tempo da roça giram em torno dos animais e das atividades que os envolvem. Poema esse usado como suporte para o trabalho:



BOITEMPO

(Carlos Drummond de Andrade)

Entardece na roça
de modo diferente.
A sombra vem nos cascos,
no mugido da vaca
separada da cria.
O gado é que anoitece
e na luz que a vidraça
da casa fazendeira
derrama no curral
surge multiplicada
sua estátua de sal,
escultura da noite.
Os chifres delimitam
o sono privativo
de cada rês e tecem
de curva em curva a ilha
do sono universal.
No gado é que dormimos
e nele que acordamos.
Amanhece na roça
de modo diferente.
A luz chega no leite,
morno esguicho das tetas
e o dia é um pasto azul
que o gado reconquista.


CLIQUE AQUI PARA OUVIR O PRÓPRIO POETA RECITANDO O POEMA




Carlos Drummond de Andrade
- "Tímido e recatado como bom mineiro. Filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade, nascido em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, a 31 de outubro de 1902, nunca foi dado aos cuidados da terra e desde muito cedo deu preferência às letras."



Fontes: Memória Viva e Casa do bruxo

1 comentário:

Unknown disse...

Ai que delícia a vozinha dele... senti a roça em mim agora! Seu trabalho é todo uma delícia!